O Mestre do Tempo – A Caçada ao Guerreiro Fantasma

Bem-vindo a este aperitivo especial de nossa obra de fantasia, O Mestre do Tempo – A Caçada ao Guerreiro Fantasma. Neste artigo, você terá acesso ao primeiro capítulo do livro, uma introdução emocionante ao universo marcado pela ameaça de Darkslayer.

Portanto, prepare-se para conhecer personagens cativantes, mergulhar em mistérios ancestrais e experimentar o início de uma jornada épica que desafia o bem e o mal. Este é apenas um vislumbre da aventura que espera por você nas páginas de nossa obra completa.

Dessa forma, se você ama histórias repletas de ação, reviravoltas e emoção, aproveite essa leitura como um convite para explorar mais desse universo incrível! 🌟

Introdução

Em um cenário de destruição, dois guerreiros se enfrentam sobre os destroços de uma torre colossal, banhados pela luz prateada da lua, enquanto o caos arde ao redor. Esta torre, agora em ruínas, é o epicentro de uma batalha sem precedentes, destinada a moldar os rumos da história. Este momento é conhecido como o último suspiro do homem mais poderoso de sua era.

Um dos guerreiros, trajando uma reluzente armadura prateada, está prostrado no chão, suas pernas incapazes de suportar o peso do corpo. Este é um momento de humilhação para alguém acostumado a ver seus oponentes se curvarem diante dele. Seu adversário, envolto por uma armadura negra adornada com uma figura mística de um dragão, avança lentamente. A figura do dragão parece ganhar vida, serpenteando pelo corpo do guerreiro, como se compartilhasse da emoção do momento.

Quando o grande dragão negro, faiscando com eletricidade, emerge da armadura, seus olhos amarelos emanam um terror intimidante. Sua presença é tão avassaladora que os próprios alicerces da terra parecem tremer. E, num espetáculo derradeiro, o destino dos guerreiros é selado.

Melhores Livros de Fantasia

Toda vida segue um ciclo: começo, meio e fim. Mas para mim, essa ordem natural da existência não se aplica. Afogo-me em profundo pesar, e o que me resta são apenas lembranças das alegrias que vivi e o peso dos arrependimentos por aquelas que deixei passar.

Fui reverenciado por nações inteiras, meu poder era fonte de inspiração para meus aliados e causa de temor para meus inimigos. O significado do meu nome transcende a compreensão daqueles que compartilharam minha jornada. No entanto, o orgulho me consumiu, levando-me a abraçar um poder além da capacidade humana, e este foi o início da minha queda.

Eva… Ah, que ironia! Eu, que um dia acreditei no poder do destino, e eu, que um dia nutri esperanças no amor. Hoje, sou apenas memórias de um mundo que depositou em mim a esperança de ser seu salvador.

Capítulo 1

Local: Nastec. Milênios depois.

     Num corredor mergulhado na escuridão, situado dentro do quartel-general de uma cidade dominante no meio do deserto, passos apressados ecoavam pelo ambiente sombrio. As luzes tinham sido propositadamente apagadas, em conformidade com um protocolo rígido de segurança, uma prática comum naquelas instalações. Ao longo do extenso corredor, apenas luzes vermelhas intermitentes ofereciam alguma orientação, indicando uma direção a seguir. No final do corredor, uma porta se destacava como o destino iminente da pessoa em movimento.

A respiração do indivíduo era pesada, como se o corredor estivesse se estendendo além de seus limites naturais. Assim que sua mão alcançou a maçaneta, ele a girou com força, entrando sem aviso na sala. O homem mal conseguia respirar enquanto chamava:

— Gaty! Os Ceifadores de Alma… cercaram a cidade! Estão mais perto do que nunca. 

O jovem homem irrompeu na sala com um estrondo, interrompendo o silêncio tenso. Dentro do recinto, um homem permanecia de costas, imerso em pensamentos. Gaty era seu nome. Sua jaqueta marrom longa parecia pesada sobre os ombros. Seu semblante era sereno, reflexivo, como se estivesse imerso em profunda concentração. A sala estava adornada com uma vasta janela que oferecia uma vista panorâmica da cidade conhecida como Nastec. Com a voz serena, ele respondeu sem se virar:

— Isso é mais preocupante do que eu esperava. A proteção ao redor de Nastec pode estar enfraquecendo.  

Gaty virou levemente a cabeça, observando o reflexo do soldado através do vidro. Seu robusto bigode castanho parecia adicionar anos à sua aparência, fazendo-o parecer mais velho e mais sábio do que sua verdadeira idade sugeria. Ele suspirou, os olhos castanhos refletindo as luzes cintilantes da cidade. 

— Estabeleça uma guarda ao longo da fronteira — pediu, com uma calma que não refletia o caos na cidade. — Não podemos nos dar ao luxo de deixar que eles avancem mais. — O soldado assentiu com determinação.

— Mobilizarei as tropas imediatamente. — disse o soldado. Gaty, ainda de costas, fez um último apelo, sua voz agora carregando uma leve preocupação:

— Fredaum, tenha cuidado… — disse ele, identificando o nome do soldado. Mas Fredaum já havia saído, o som dos seus passos ecoando novamente pelo corredor. Ele disparou em direção ao próximo ponto, com a mente ocupada pela tarefa designada. Seu colete azul-marinho, com um imponente falcão negro bordado nas costas, balançava enquanto ele se movia. Era um símbolo de prestígio, e Fredaum sabia o peso que carregava nas mãos naquele momento.

Não muito longe dali, uma modesta casinha estava mergulhada no silêncio da noite, exceto pelos ruídos insistentes que vinham de fora. O quarto, simples e compacto, tinha apenas o necessário: uma cama, uma mesa de canto e uma pequena luminária. Dois corpos repousavam sob os cobertores, mas o sono não vinha fácil naquela noite. De repente, uma voz feminina, suave, porém inquieta, rompeu o silêncio.

— Guido, que barulho é esse lá fora? — Guido murmurou algo, tentando afastar o som de sua mente, cobrindo o rosto com o travesseiro.

— Deve ser alguma simulação de invasão — respondeu, abafado, na tentativa de ignorar os alarmes do lado de fora. A moça, impaciente, afastou o cobertor de cima dele e, com um movimento rápido, acendeu a luz do quarto. A claridade revelou seu semblante preocupado enquanto ela se levantava da cama.

— Simulação ou não, você não deveria estar lá fora? — perguntou, encarando Guido com firmeza. Ele, ainda deitado, resmungou, tentando conter o som dos alarmes, mas sabendo que ela estava certa.

— Não tinha nada planejado para hoje… — disse, com a voz preguiçosa, enquanto esfregava os olhos, tentando voltar ao conforto da cama.

Antes que pudessem continuar a conversa, uma batida forte ecoou pela porta do quarto, intensa e desesperada, como se fosse derrubar a entrada. Guido suspirou, relutante, e se levantou de forma atrapalhada, tropeçando na mesa de canto, um dos poucos móveis do quarto.

Com os cabelos pretos desgrenhados e a expressão sonolenta, ele se aproximou da porta. Sua pele bronzeada pelo sol do deserto reluzia levemente sob a luz do quarto, enquanto ele abria a porta com uma expressão que misturava cansaço e desinteresse.

Do lado de fora, um jovem soldado, com farda impecável marrom, aguardava eufórico. Seu rosto pálido e os olhos castanhos estavam arregalados, enquanto o cabelo loiro liso caía sobre a testa de forma quase juvenil. Parecia mais um adolescente recém-saído do colégio do que um soldado preparado para o caos.

— Guido! Como você consegue ficar calmo com a cidade parecendo que vai explodir?! — exclamou o jovem, ofegante. Guido, ignorando completamente o pânico do rapaz, perguntou com um tom de voz que mesclava ironia e desinteresse:

— Como é que você sabia que eu estava em casa? — O jovem soldado ficou sem jeito, coçando a cabeça e desviando o olhar. Sua resposta veio hesitante, com uma gagueira que denunciava seu nervosismo.

— E-eu… ah, b-bem, eu… — tentou responder, sem sucesso. Guido arqueou uma sobrancelha, um sorriso preguiçoso começando a se formar em seus lábios.

— Você estava me espionando, é isso? — perguntou, mantendo o tom descontraído, mas com um olhar afiado.

— N-não! Não mesmo! — o jovem balançou a cabeça freneticamente, ainda gaguejando, tentando se justificar.

— Ah… — Guido continuou, com uma expressão de falso entendimento. — Foi o Gaty que mandou você ficar de olho em mim, não foi? — O jovem soldado ficou em silêncio por um momento, antes de suspirar e admitir:

— Guido… você sabe que eu não tive escolha. — Guido soltou uma gargalhada alta e sincera, quebrando o clima tenso. Sua risada encheu o ambiente, e ele finalmente se virou para o jovem, ainda rindo.

— Estou brincando, rapaz! Calma. — Ele colocou a mão no ombro do jovem, tranquilizando-o. — Espera aqui fora. Eu vou pegar minhas coisas. — O jovem soldado esperava na porta, ainda um pouco desconcertado pela conversa anterior. Tentando retomar o controle da situação, ele perguntou, meio nervoso:

— O que você vai pegar, Guido? — como se não fosse óbvio o motivo de sua presença ali. Guido, com o mesmo tom descontraído, revirou os olhos e respondeu:

— Minhas coisas, é claro. Não foi por isso que você veio me buscar? — Ele arqueou uma sobrancelha, como se estivesse provocando. O jovem suspirou, impaciente.

— Guido, esse não é um momento para brincadeiras. Você sabe exatamente por que estou aqui. — Mas Guido, impassível, ignorou o tom sério do rapaz, fazendo gestos com as mãos, imitando alguém falando sem parar.

— Blá, blá, blá… — resmungou ele, sem dar a mínima atenção ao alerta, enquanto entrava novamente na casa para pegar suas coisas.

Enquanto Guido se movia despreocupadamente pelo quarto, a mulher que estava com ele momentos antes, saiu pela porta. Ela era de uma beleza cativante, e o jovem soldado, ainda na porta, ficou instantaneamente hipnotizado ao vê-la passar. Seus cabelos caíam delicadamente sobre os ombros, e seus olhos brilhavam à luz suave dos postes de iluminação. Ele mal conseguia desviar o olhar. Porém, a voz de Guido ecoou de dentro da casa, cortando o encanto.

— Liz! Você viu minha cueca preta da sorte? 

A pergunta o tirou completamente do momento. Ele piscou várias vezes, tentando processar o que acabara de ouvir. Liz parou, já a caminho de sua casa, e lançou um olhar divertido para a porta, respondendo com uma leve risada:

— Guido, não é aquela que você perdeu na casa da Marly? 

O jovem soldado, que já estava embaraçado pela beleza de Liz, ficou ruborizado, quase afundando no chão de vergonha. Ele já conhecia a fama de Guido com as mulheres, mas ouvir esse tipo de conversa tão abertamente o pegou de surpresa. Ele não imaginava que Guido fosse tão… relaxado em relação a esses assuntos. Liz, notando o rubor do rapaz, sorriu gentilmente e disse, antes de partir:

— Não fique assim, está tudo bem. Só cuide bem do Guido, por favor. — O soldado apenas assentiu, sem palavras, ainda tentando se recompor.

Poucos instantes depois, Guido saiu de casa, agora vestindo uma farda marrom idêntica à do jovem, mas, de alguma forma, ele conseguia fazer o uniforme parecer mais casual, como se fosse algo que ele usava por obrigação e não por dever.

— Pronto. — disse Guido, com um sorriso despreocupado, dando um tapinha no ombro do soldado. — Vamos nessa.

— Guido, para com isso! — disse o jovem, com um tom quase suplicante. — Você sabe que está proibido de sair da cidade. — Guido, que até então mantinha uma expressão despreocupada, mudou repentinamente. Sua voz saiu firme e séria:

— Adam! — O jovem soldado congelou, assustado com o tom de voz de Guido chamando o seu nome. Ele nunca o vira falar assim, e isso o desconcertou. — Nós nos formamos juntos na academia, e nos tornamos grandes amigos desde então. Você lembra disso, certo? — Adam assentiu, sentindo o peso da situação crescer em seus ombros.

— Claro que sim, Guido. E é exatamente por isso que Gaty me deu essa tarefa. Ele confiou em mim porque sou a única pessoa que pode impedir você de fazer alguma besteira. — Guido o interrompe abruptamente, com uma voz cortante:

— Não, Adam. O verdadeiro motivo de Gaty ter dado essa tarefa a você é que ele sabia que você é a única pessoa que eu não ousaria machucar.

Adam ficou em silêncio, com os olhos arregalados. Guido deu um passo à frente, sua expressão agora mais intensa.

— Você era um cara que tinha sonhos, Adam. Grandes sonhos. Quando saímos da academia, você falava que queria ser algo mais. Mas agora você está aqui, seguindo ordens pequenas, vigiando amigos como se não tivesse escolha. — Ele balançou a cabeça em desaprovação. — Você nunca vai alcançar seus sonhos se continuar aceitando esse tipo de trabalho. — Adam abaixou os olhos, refletindo sobre as palavras de Guido. Após um momento, respondeu, hesitante:

— Eu não posso simplesmente dizer “não” a uma ordem do Gaty, Guido. Ele confia em mim. — Guido cruzou os braços, sem esconder sua frustração.

— Adam, você foi colocado aqui para me vigiar. No começo, até foi engraçado. Eu deixava passar porque você era meu amigo. Mas já chega. Eu não sou mais uma criança. — Adam, ainda hesitante, começou a gaguejar uma resposta, mas Guido foi direto ao ponto.

— Escuta — disse Guido, num tom agora mais casual, quase sugerindo uma saída — você não precisa desobedecer as ordens do Gaty. — Um leve sorriso surgiu em seus lábios. — Basta vir comigo para a fronteira. Assim, tecnicamente, você ainda estará me vigiando. — Adam balançou a cabeça imediatamente, tentando afastar a ideia.

— Gaty foi claro, Guido. Nem um fio de cabelo seu deve sair da cidade!

— Então, veja só… Se você me acompanhar, estará desobedecendo apenas metade da ordem. Ou você prefere que eu te derrube aqui mesmo e vá sozinho para a fronteira, sem supervisão? — sugeriu Guido, agora com um sorrisinho arteiro dançando em seu rosto. Adam começou a suar, o nervosismo crescendo. Ele olhava para Guido como se não acreditasse no que estava ouvindo.

— Guido, você vai arrumar uma encrenca das grandes! Eu vou acabar sendo responsabilizado por isso! — Guido, já caminhando para longe, jogou as últimas palavras sobre o ombro.

— O tempo está passando, Adam. Vai fazer o que?

Não passou muito tempo até que as tropas se aproximassem da fronteira pelo deserto. Fredaum, o comandante que vestia a farda adornada com o falcão negro, liderava o grupo. De longe, avistaram as sinistras criaturas conhecidas como Ceifadores de Alma se aproximando. Os Ceifadores eram como uma terrível sombra avançando lentamente, seu som agudo causava arrepios por todo o corpo. Quando Fredaum assumiu a liderança da situação.

— Soldados de Nastec! As abominações de Darkslayer têm tentado romper nossas defesas, aproximando-se cada vez mais de nossos muros. Vejo nos olhos de muitos o desânimo instaurado, a vontade de lutar se esvaindo. Eles acreditam que nos derrotarão, mas desconhecem nossa verdadeira força. Desconhecem as lendas que nasceram neste solo, lendas que vivem em cada um de nós. O que nos une é mais poderoso do que qualquer coisa, e é por isso que lutamos. Pelas nossas famílias, pelos nossos amores. Eles terão que ser mais poderosos do que tudo isso se quiserem nos superar!

— Este é o Fredaum que conhecemos! — exclamou um dos soldados, ecoado pelo restante do exército.

— O líder dos Hawks Sombrios! — acrescentou outro, enquanto o exército vibrava com fervor. Fredaum então prosseguiu com o seu discurso.

— Atenção, homens! Nossa missão aqui não é lançar um ataque. Por enquanto, estamos seguros dentro de nossos muros. Vamos observar seus movimentos, mostrar que, mesmo protegidos, estamos preparados para a guerra. Portanto, não ataquem a menos que eu ordene.

A atmosfera estava carregada de tensão, os soldados sentiam-se apreensivos, mas as palavras de Fredaum diante de sua tropa os revigoraram. Os Ceifadores eram criaturas que mais pareciam almas errantes; à medida que se aproximavam, parecia que a própria energia do ambiente estava sendo drenada. Ao longo da fronteira, alguns soldados começaram a sentir-se enjoados, e muitos desmaiaram.  

— Não confio nele — murmurou Guido para Adam.

— Do que está falando? Fredaum é o mais respeitado em toda a tropa de Nastec — retrucou Adam, como se Guido tivesse cometido uma heresia.

— Não sei não. Por que nos esconder, quando poderíamos simplesmente enfrentá-los de frente?

— Você está louco? Não temos a menor chance contra os Ceifadores de Darkslayer!

— Ah, Adam, por acaso já lutou contra eles alguma vez? — desafiou Guido. Adam por um breve momento parou para refletir, e é claro que ele nunca havia encarado um Ceifador de Alma de frente.

— Nunca passou pela minha cabeça, mas uma coisa é certa, estou começando a me arrepender de ter permitido que você viesse até aqui. Você está com aquela expressão de encrenca, e uma encrenca das brabas. — Guido com um sorriso sorrateiro não negou, quando continuou a provocar seu amigo:

— Como pode dizer que não temos chance alguma contra eles se nem mesmo tentamos? Isso me irrita em relação ao Fredaum. Poderíamos vencer.

— Você nunca muda, Guido, sempre fantasiando. Se Fredaum disse para ficarmos aqui, é porque foram as ordens do Gaty. — Guido não ficou satisfeito com a resposta dada, e retrucou.

— Sempre o Gaty, sempre decidindo o que é melhor para todos. — a conversa leve entre os dois, não refletia o temor que se aproximava lentamente dos soldados.

— Vamos fugir — sugeriu um soldado de Nastec ao avistar a onda de Ceifadores, sua voz trêmula revelando a tensão no ar.

— Apenas observe, não há razão para temermos — contrapôs outro soldado. Os Ceifadores estavam a menos de dez metros do exército de Nastec. Era difícil distinguir suas feições, mesmo tão próximas… De repente, um deles tombou para trás, seguido por outros, como dominós. 

Muitos Ceifadores eram repelidos por uma força invisível. Não estavam morrendo, mas encontravam uma barreira invisível a cada tentativa de avanço, talvez um campo de energia.

— Eu disse para não se preocuparem — disse o soldado que pedira ao colega para apenas observar, com um sorriso vitorioso. Seu parceiro agora aliviado após a tensão sentia o ar entrar novamente em seus pulmões.

— Nunca tinha visto o feitiço em ação.

— Deve ser sua primeira vez na linha de frente conosco, mas isso acontece sempre. Eles nunca conseguem passar.

— Mas como é possível? O feitiço continua ativo mesmo após a morte da feiticeira que o conjurou?

— De fato, ela está morta, mas suas proteções perduram. Nastec está envolta em um encanto de proteção, impedindo Darkslayer de conquistá-la até agora.

— Incrível! Estamos vivos! Estamos vivos! — gritou o soldado que antes estava amedrontado. E todos os soldados de Nastec vibraram em resposta.

Pode-se dizer que não apenas aquele, mas todos os soldados de Nastec estavam aliviados por mais uma vez o feitiço tê-los mantido a salvo. Nastec era uma cidade imensa, cercada por um vasto deserto. Há tempos atrás, era uma das maiores superpotências do mundo, até que surgiu um ser misterioso, do qual muitos só ouviram falar. Em pouco tempo, ele se tornou o imperador de uma nova era, devastando uma grande parte da humanidade e autoproclamando-se como Darkslayer. Muitas nações sucumbiram diante de seu poder avassalador, e aquela que outrora fora uma das mais poderosas nações bélicas do mundo agora se esconde por trás de um feitiço de proteção que os mantém a salvo até os dias de hoje. Entretanto, a cada dia que se passava, o inevitável fim parecia se aproximar. 

Fredaum testemunhou algo fora do comum. Seu olhar penetrante atravessou as sombras negras e encontrou alguém diferente, uma figura humana, com olhar gélido e pele pálida. Cabelos negros e longos, com uma espada presa à cintura, conferiam-lhe uma aura de ameaça inegável. Fredaum e o enigmático desconhecido sustentaram um longo olhar, enquanto o exército de Nastec, inflamado, festejava atrás de Fredaum. A tensão entre os olhares parecia interminável, até que a figura misteriosa desapareceu abruptamente, como se nunca estivesse ali

— O que houve, Fredaum? Vamos celebrar, eles se foram — disse um soldado, vestido com o mesmo uniforme adornado com o falcão negro de Fredaum, abraçando-o pelos ombros. Fredaum, ainda tentando encontrar resquício do ser misterioso respondeu.

— Não foi nada, só pensei ter visto algo. Mas deve ser coisa da minha cabeça. Você está certo, vamos celebrar — ele então se virou, dirigindo-se ao seu exército. Os soldados de Nastec festejavam enquanto retornavam à cidade, sendo recebidos com alegria por todos os habitantes.

— Alguém viu o Guido por aí? — perguntou Adam a um soldado. Que o olhou com confusão nos olhos.

— Guido? O que ele estaria fazendo conosco? 

— Ei, você viu o Guido em algum lugar? — perguntou Adam, agora preocupado, a outro soldado. Que o fintou da mesma maneira que o primeiro, mas, aparentemente já bêbado com a bebida forte que despejava em sua garganta.

— Que tal verificar na casa dele? Ontem à noite, juro que o vi com a filha do general Tauros, — respondeu o soldado, sorrindo maliciosamente.

— Droga! Guido, onde você está? O Gaty vai me matar, e com requintes de crueldade — lamentou Adam, visivelmente preocupado.

Guido estava agachado atrás de uma duna no deserto, enquanto observava ao longe a retirada dos Ceifadores de Alma. A paisagem à sua frente era tomada por um mar negro de almas errantes, dançando como uma tempestade sombria. Ele murmurava para si mesmo, incomodado com a situação:

— O que será que as pessoas veem no Fredaum? — Ele resmungou, franzindo o cenho. — Não suporto a ideia de ficarmos escondidos quando poderíamos lutar e vencer. 

Os Ceifadores eram numerosos, isso ele não podia negar, mas algo dentro dele o fazia acreditar que poderia vencer, que poderia ser a solução. Ele começou a se imaginar nas capas de jornais de Nastec, com o título “Guido, o Exterminador de Ceifadores”. Um sorriso satisfeito cruzou seus lábios.

Com a decisão firmada, Guido se levantou de repente, a determinação tomando conta de seu ser. Ele sabia que aquele era o momento perfeito para testar sua nova técnica. Com os olhos fechados, ele respirou fundo, sentindo a energia fluir por seu corpo. Aos poucos, uma leve transformação começou a ocorrer.

De seu corpo, quatro esferas brilhantes de energia foram liberadas, duas à sua direita e duas à sua esquerda. No entanto, as esferas começaram a mudar. O brilho vívido que as envolvia deu lugar a um cinza sombrio, como se algo denso estivesse tomando conta delas. As esferas pesavam, se transformando lentamente em formas humanas. Quando tomaram forma por completo, Guido olhou ao redor e percebeu o que havia criado. Eles não eram meros clones; eram aspectos diferentes de sua própria personalidade.

Sorrindo de canto, Guido fez uma chamada irônica para os seus clones, como se estivesse reunindo uma equipe.

— Guido Malvado? — perguntou, com um toque de sarcasmo. O clone com olhos gélidos e feições perturbadoras deu um passo à frente, os lábios curvados em um sorriso ameaçador.

— Pronto para agir — respondeu o clone com um tom frio, quase assustador.

— Guido Bondoso? — continuou Guido, olhando para o segundo clone. Este clone tinha uma expressão pura, quase angelical, e seus olhos brilhavam com uma bondade inabalável.

— Sempre pronto para ajudar! — disse ele com um sorriso gentil. Guido então se voltou para o terceiro clone, que saltitava em constante agitação.

— Guido Energético?

— Estou Pulsando de adrenalina! — respondeu o clone, seus movimentos rápidos e quase descontrolados. Por fim, Guido olhou para o último clone, que tinha uma meleca escorrendo do nariz e parecia perdido, olhando ao redor confuso.

— E, por último, mas não menos importante… Guido Idiota? — O clone intitulado de idiota olhou para Guido com uma expressão de absoluta confusão.

— Onde é que eu tô? — perguntou, coçando a cabeça com desorientação. Guido suspirou, mas riu em seguida. Era bom saber que até o clone idiota estava funcionando normalmente. Ele então olhou para os Ceifadores de Alma que se espalhavam pelo horizonte, o sorriso largo crescendo em seu rosto.

— Hora do show, galera!

Em um instante, a atmosfera mudou. Todos os clones, tão diversos em seus aspectos, voltaram seus olhares para o mar de Ceifadores. Seus olhares, que antes representavam fragmentos diferentes de Guido, agora se uniam em uma única expressão de determinação e propósito. Cada um, à sua maneira, se preparava para a batalha iminente.

Os cinco Guidos avançaram como uma tempestade, suas silhuetas rasgando o deserto em direção ao mar de Ceifadores de Alma. A areia fustigava os pés, o vento cortante silvava, mas nada poderia parar a determinação deles. Guido, no centro, liderava o ataque com um olhar feroz e sorriso confiante. À sua volta, os clones refletiam suas facetas, mas todos moviam-se em sincronia.

O primeiro impacto foi brutal. Guido saltou no ar, girando o corpo com precisão e acertando um chute circular no peito de um Ceifador que se materializava à sua frente. O som seco da pancada ecoou no ar, e a criatura se desfez no chão, poeira subindo em volta de seus pés. Sem perder tempo, Guido Malvado seguiu com um golpe brutal de cotovelo, esmagando um outro Ceifador que avançava com garras à mostra.

— Eles são tangíveis — murmurou Guido, sentindo o impacto sólido de seus golpes. — Esqueça o plano B!

Guido Bondoso, com agilidade surpreendente, atacou outro Ceifador com uma chave de braço rápida, virando o inimigo ao chão com suavidade e precisão. Ele se movia com graça, seus golpes eram mais técnicos e voltados a incapacitar, mas ainda assim poderosos.

— Vamos, não podem ser tão fortes assim! — gritou Guido Energético, que, de um salto incrível, subiu nas costas de um Ceifador e o esmagou com um soco direto no topo da cabeça, antes de quicar para outro, acertando uma série de socos rápidos no estômago da criatura, derrubando-a com facilidade. — Isso é mais fácil do que pensei!

Guido Idiota, por mais confuso que estivesse, avançou sem hesitar. Ele tropeçou em um Ceifador, rolando no chão e se levantando cambaleante, mas com um soco desajeitado conseguiu acertar o queixo da criatura, que caiu com um baque no chão. Guido original soltou uma risada alta ao ver a cena.

— Até você está funcionando, hein?! — Guido zombou, enquanto girava no ar, desferindo uma sequência de golpes rápidos em dois Ceifadores ao mesmo tempo. Seus punhos moviam-se como martelos, esmagando os inimigos com uma velocidade impressionante.

Enquanto avançavam, Guido notava que, apesar da quantidade assustadora de Ceifadores, eles não eram tão ameaçadores quanto pareciam. Ele e seus clones estavam aniquilando cada um que se aproximava com facilidade. O mar negro de almas que parecia infinito, agora parecia mais como um amontoado de alvos esperando para serem derrubados.

Guido girava o corpo com precisão, cada movimento era uma dança de golpes mortais. Um Ceifador tentou atacá-lo pelas costas, mas Guido, com sua agilidade impressionante, se abaixou no último segundo, girando em um chute baixo que varreu as pernas da criatura, fazendo-a cair de costas. Num piscar de olhos, ele saltou no ar e cravou o joelho no peito da criatura, extinguindo sua vida de uma só vez.

— É disso que o povo de Nastec tem medo? — gritou Guido, levantando-se e desviando de uma série de ataques com movimentos fluidos. A cada passo que avançavam, mais Ceifadores caíam aos seus pés. Guido começava a perceber que o desafio estava na quantidade, não na qualidade. Eles não eram tão temíveis quanto o nome indicava.

— Eu realmente vou aparecer nos jornais! — disse Guido, com uma gargalhada, enquanto desferia uma cotovelada no rosto de um Ceifador, que caiu de joelhos antes de receber um chute direto na cabeça. 

Os cinco avançavam como uma força imparável, seus corpos se movendo como sombras rápidas entre os Ceifadores. Eles davam uma verdadeira surra nas criaturas, eliminando uma após a outra com agilidade e força surpreendentes. A areia do deserto subia no ar, misturando-se à energia das batalhas e ao rastro dos Ceifadores derrotados.

Porém, a luta que parecia estar ao alcance de Guido tomou um rumo inesperado. Sem aviso, um golpe atingiu-o em cheio, empurrando-o para trás com força suficiente para tirar-lhe o ar. Ele sabia que algo assim não deveria tê-lo acertado; seus reflexos eram rápidos demais para serem surpreendidos por um ataque tão previsível. Ofegante, Guido ergueu o olhar e viu seus clones, que momentos antes lutavam com confiança, agora encurralados pelos Ceifadores de Alma.

— Não… — Guido murmurou entre os dentes, seus olhos se estreitando ao ver os clones serem cercados. Ele avançou furiosamente, atravessando as fileiras de Ceifadores com golpes precisos. Seus punhos encontravam corpos a cada passo, e um rastro de destruição formava-se ao seu redor. As criaturas caíam, se desfazendo em névoa escura, enquanto Guido abria caminho até seus clones. Seu corpo movia-se como uma tempestade, mas, mesmo assim, algo estava errado. Ele sentia uma fraqueza incomum. Sua energia, que sempre pulsava com intensidade, parecia estar sendo drenada.

— Não pode ser… — pensou Guido enquanto seus pés afundavam na areia. Ele começou a se lembrar, que alguns soldados de Nastec estavam se sentindo mal, simplesmente por estar perto dessas criaturas. O que estava acontecendo com ele agora? Seu corpo, normalmente tão ágil e forte, começou a pesar. A visão de seus clones lutando e sendo dominados o impulsionava a continuar, mas ele sabia que algo estava terrivelmente errado.

Mesmo assim, Guido lutava. Seu corpo reagia mecanicamente, desviando de ataques e desferindo golpes que, até há pouco tempo, eram devastadores, mas agora começavam a perder potência. Ele olhou em volta e viu mais e mais espectros surgindo do chão, negros e amorfos, seus olhos brilhando com uma fúria desalmada. Ele estava cercado.

— Não vou conseguir continuar assim… — Guido pensou, ofegante. O suor escorria pelo rosto e seus punhos começavam a tremer. Pela primeira vez, a ideia de recuar para Nastec surgiu em sua mente. Mas então, algo estranho aconteceu. O avanço dos Ceifadores parou abruptamente. O que até então era uma onda imparável de espectros movendo-se com o único objetivo de destruí-lo, agora hesitava. Guido, incrédulo, observou ao redor. Os Ceifadores começaram a se afastar.

— O que… o que estão fazendo? — Guido murmurou, quase sem acreditar. — Estão fugindo? Justo agora que estavam começando a nos encurralar?

A esperança momentânea que ele sentiu logo se dissipou quando percebeu que os Ceifadores não estavam recuando, mas, sim, abrindo caminho. A inquietação crescia em seu peito. O mar de sombras se dividia em um corredor sombrio, e do outro lado algo se movia. Alguém se aproximava. As criaturas, que momentos antes pareciam ávidas por sangue, agora se encolhiam diante da figura que surgia do meio da escuridão.

Guido sentiu um arrepio subir pela espinha. Ele não podia ver claramente, mas a simples presença daquela pessoa ou coisa fazia o ar ao seu redor pesar ainda mais. A energia dos Ceifadores parecia reverenciar o que quer que estivesse vindo.

A figura que se aproximava trouxe um silêncio aterrador ao campo de batalha. O homem tinha pele pálida como a neve e seus cabelos negros e lisos balançavam suavemente ao vento do deserto. Ele trajava uma roupa leve e preta, que lhe conferia uma aura ágil e mortal, e sua espada, presa à cintura, cintilava com um brilho ameaçador. Era o mesmo homem que Fredaum havia avistado entre as fileiras de Ceifadores mais cedo.

Enquanto ele avançava pelo corredor de espectros, seus olhos frios focaram-se em Guido, que lutava para manter-se de pé. Ao se aproximar, o homem parou, observando Guido com uma expressão que misturava curiosidade e desprezo.

— Surpreendente… — disse o homem, sua voz baixa e firme. — Não imaginei que alguém seria tão corajoso ou, talvez… tão idiota a ponto de enfrentar os Ceifadores sozinho. — Ele inclinou a cabeça levemente, analisando Guido com um olhar clínico, como se estivesse avaliando sua capacidade de sobrevivência. 

Guido, sentindo o peso cada vez maior em seu corpo, sabia que não podia demonstrar fraqueza. Embora sua energia estivesse sendo drenada pelos Ceifadores, ele forçou um sorriso de confiança, tentando mascarar sua preocupação. Seus olhos brilharam com um toque de desafio.

— Corajoso ou idiota? — Guido deu uma risada curta e seca, ajustando a postura. — Eu já estava entediado com esses fantasmas… Ver alguém diferente finalmente renova as minhas energias. — Sua voz, apesar de firme, escondia a exaustão que ele sentia. O homem ergueu uma sobrancelha, surpreso com a resposta ousada de Guido. Seus olhos faiscavam com algo entre admiração e desdém.

— Renovado? Interessante… — ele murmurou, quase para si mesmo, antes de continuar. — Deve ser, no mínimo, impressionante para alguém aguentar tanto tempo na presença dos Ceifadores. Você sabe do que estou falando, não sabe? — A voz dele tinha um tom de zombaria sutil, como se testasse os limites de Guido. 

Guido sabia exatamente do que ele falava. Não era ingênuo ao ponto de ignorar os efeitos devastadores que os Ceifadores estavam causando em seu corpo. A drenagem de energia era palpável. Cada respiração parecia exigir mais esforço, e seus músculos doíam com uma fraqueza crescente.

— Eu não me canso tão facilmente — respondeu Guido, em um último esforço. — Estou sempre pronto para mais uma rodada. 

— Tanta confiança, mas receio que não vá adiantar. Sou um general de Darkslayer, e alguém como você não tem chance contra mim.

— Não me importo com títulos. O desfecho só será revelado quando nos enfrentarmos.

— Confesso que você me surpreendeu, mas sabia que o momento chegaria em que você não conseguiria mais lidar com eles. Embora não sejam tão fortes, têm o potencial de drenar sua energia. Muitos mal conseguem permanecer por um minuto em sua presença. Decidi esperar e me divertir um pouco, tentando determinar quanto tempo você aguentaria. — O homem fintava Guido com um olhar curioso, enquanto revelava que o estava observando o tempo todo. Porém Guido não deixou aquela provocação sair barata.

— Será que você estava temeroso de enfrentar-me no auge do meu poder? E esperou até que eu estivesse enfraquecido — provocou Guido, o general que não esperava aquela abordagem, começou a gargalhar.

— Gostei de sua aura. É interessante. Dou-lhe a oportunidade de desistir dessa empreitada insensata e retornar à sua cidade. Já cumpri meu dever aqui, afinal não tenho nada contra você. — propôs o general, com um tom quase amigável. — Não somos tão cruéis. Ou somos? — questionou, deixando Guido pensativo. 

A proposta parecia tentadora, mas o orgulho de Guido era grande demais para considerá-la.

— Acha que vim despreparado? Não vou fugir. Venha me enfrentar — declarou Guido, com determinação. O general pareceu lamentar por um momento.

— Uma pena, realmente uma pena. Já que está tão decidido, sugiro que reintegre as energias desses clones ao seu corpo original. Além de dividir seu poder em cinco, está desperdiçando energia em excesso. — Guido sabia que o homem tinha razão, mas, aquele ar dominante e superior que ele exalava o trazia desconforto. As personalidades de Guido começaram a retornar ao seu corpo original, enquanto seu olhar permanecia fixo no general.

— Odeio ter que concordar, mas de fato, recuperei um pouco da minha energia — pensou Guido, enquanto recuperava parte de seu poder.

A luta começou de forma intensa e rápida. Guido avançou em direção a ao general com velocidade, desferindo uma sequência de socos e chutes. Ele sabia que precisava ser rápido e preciso, pois sua energia estava sendo sugada pelas criaturas ao redor. Seus punhos cortavam o ar, e seus pés se moviam com uma agilidade impressionante, tentando acertar o general a todo custo.

O general, por sua vez, permanecia incrivelmente calmo. Com movimentos suaves e elegantes, ele se esquivava de cada golpe de Guido com uma precisão quase arrogante. Seus pés deslizavam pelo chão do deserto como se ele estivesse dançando, e um sorriso provocador surgia em seus lábios a cada golpe que evitava.

— É só isso que você tem, garoto? — zombou o general, desviando de um chute alto de Guido com um simples movimento de cabeça. — Eu esperava mais de alguém que ousou enfrentar os Ceifadores sozinho.

Guido ignorou a provocação, concentrando-se em seus movimentos. Ele sabia que precisava manter a cabeça fria, mesmo sentindo suas forças diminuírem. Os Ceifadores ao redor continuavam drenando sua energia, e a presença do general apenas intensificava a sensação de exaustão. Ainda assim, ele não podia recuar.

— Fica aí parado… — murmurou Guido entre os dentes, lançando um soco direto ao rosto do general, que facilmente desviou. — …e vai ver o que acontece!

— Você é teimoso. Eu te dou crédito por isso — disse o general, rindo com seus olhos brilhando em superioridade. Quando ele se esquivou de mais um chute de Guido com um leve giro do corpo. — Mas está desperdiçando suas forças, garoto. Você não tem chance.

A frustração de Guido crescia a cada esquiva do general. Mesmo sendo rápido e experiente no corpo a corpo, o homem parecia sempre estar um passo à frente. Guido sentia o suor escorrer por sua testa, e o peso em seu corpo aumentava. Seus músculos doíam, e cada golpe parecia exigir mais esforço do que o normal. A drenagem de energia dos Ceifadores estava começando a fazer efeito.  

De repente, Guido mudou sua abordagem. Em vez de atacar de frente, ele deu um passo para trás, disfarçando sua intenção. O general sorriu, pensando que Guido estava começando a cansar-se de vez. Porém, esse era o momento que Guido esperava. Com um movimento rápido, ele girou o corpo em um chute lateral, pegando o general de surpresa.

O chute acertou o tronco do general com força, e o homem foi jogado para trás, deslizando pelo chão arenoso por alguns metros. O impacto foi tão forte que fez a poeira do deserto se levantar ao redor dele.

O general se levantou, batendo as mãos nas vestes negras para limpar a areia acumulada. A marca do chute de Guido ainda estava visível, mas o general parecia indiferente, esboçando um sorriso que misturava curiosidade e desdém.

— Vou perguntar novamente, isso é tudo que você tem? — disse ele, com uma voz calma e controlada. — Não seria mais sábio voltar para Nastec e acabar com essa loucura? Não há vergonha em recuar quando se está diante de algo que não pode vencer.

Guido respirava com dificuldade, sentindo a pressão das palavras do general. A drenagem constante de energia dos Ceifadores começava a fazer seus músculos arderem, como se estivessem sendo comprimidos por uma força invisível. Mas a ideia de recuar, de admitir derrota, era insuportável. Não podia se permitir voltar para Nastec de mãos vazias.

— Recuar? Nunca. — Guido apertou os punhos e ignorou a oferta, avançando novamente, rápido e decidido. Com a mesma fúria de antes, Guido lançou-se contra o general, pretendendo golpeá-lo com toda a sua força, mas antes que pudesse chegar perto o suficiente, sentiu algo perfurar o ar. O punho do general encontrou seu estômago com uma precisão brutal. O impacto foi profundo, tirando o ar de seus pulmões e fazendo seus olhos se arregalarem em choque. Antes que pudesse reagir, outro soco veio de encontro à sua face, forte e implacável.

Guido foi arremessado para trás, seu corpo girando descontrolado antes de cair pesadamente no chão. O gosto de sangue tomou conta de sua boca, mas, instintivamente, ele se recuperou com um rolamento ágil, parando de joelhos no chão. Ele ofegava, tentando ignorar a dor e a sensação crescente de fraqueza. Sua visão turva focou-se no general, que ainda sorria como se a luta fosse uma simples brincadeira.

— Estou ficando lento — Guido pensou, sentindo-se irritado com sua própria fraqueza. O peso em seus músculos era cada vez mais evidente, e a presença dos Ceifadores ao redor só aumentava o fardo. O general deu alguns passos à frente, a espada em sua cintura reluzindo.

— Você não é fraco. Mas está limitando seu poder. Se não liberar tudo que tem, não terá a menor chance — disse o general, sua voz agora com um tom mais sério. — Mostre-me do que é realmente capaz.

Guido ficou em silêncio por um momento, encarando o chão. Ele sabia que aquele homem estava certo. Mesmo com toda sua habilidade e determinação, sua força estava sendo drenada, e a cada segundo que passava, sua situação piorava. Ele estava começando a admitir algo que, até aquele ponto, se recusava a considerar: não era forte o suficiente para vencer aquela batalha.

Um pensamento cruzou sua mente, algo que ele vinha evitando desde o início da luta. Ele sabia que tinha um último recurso, um poder que poderia virar a maré da batalha. O general observou Guido com interesse, percebendo o conflito interno no jovem guerreiro.

— Vamos. Use tudo que tem. Eu quero ver o seu verdadeiro potencial.

Guido abaixou a cabeça, sua mente preenchida pela culpa e pelo peso de uma promessa quebrada. Ele se lembrou de Gaty, de como havia jurado nunca liberar aquele poder ao qual foi proibido.

2 Anos atrás:

“Guido e Gaty estavam em um campo de treinamento dentro de Nastec, claramente exaustos após uma batalha intensa. Gaty estava visivelmente abalado e surpreso com o que testemunhara.

— Como você fez isso? — Perguntou Gaty, claramente atordoado.

— Não faço ideia, foi a primeira vez que aconteceu — respondeu Guido, igualmente perplexo.

— Você simplesmente… mudou. De repente estava sendo espancado por mim e, em seguida, estava me atacando. É… inédito — admitiu Gaty, ainda tentando processar o ocorrido.

— Imagina a surpresa do vovô quando eu contar que consegui te acertar um golpe — disse Guido, tentando trazer leveza à situação.

— Guido, ninguém pode saber disso. É crucial que mantenha isso em segredo — disse Gaty, com uma seriedade que não deixava espaço para questionamentos.

— Mas por que tanto segredo? A maioria dos membros das tropas especiais de Nastec tem poderes assim — argumentou Guido, desafiando um pouco a ordem.

— Porque seu poder é diferente, especial. Prometa que não o revelará a ninguém, exceto a mim. A partir de agora, ficará sob minha supervisão e está proibido de deixar Nastec — exigiu Gaty, segurando firmemente os ombros de Guido.

— Tudo bem, eu prometo. Mas quero explicações — concordou Guido, resignado.

— No momento certo, tudo será esclarecido. Por enquanto, precisamos treinar e garantir que você esteja preparado — finalizou Gaty, com um olhar determinado, mas também preocupado com o que estava por vir.

De volta a batalha, Guido estava em silêncio, pedindo perdão a Gaty em pensamento. Não tinha outra escolha. Se não usasse o poder que estava escondido dentro de si, ele sabia que perderia essa batalha. E não podia perder.

— Desculpa, Gaty… — murmurou ele, fechando os olhos por um breve momento, como se estivesse se despedindo de si mesmo.

Então, Guido se levantou lentamente, seus punhos se cerrando com uma força renovada. Seus olhos brilharam com uma luz intensa, enquanto uma aura poderosa começava a emanar de seu corpo. A energia ao seu redor se distorceu, vibrando no ar como um calor abrasador. Quando então ele sussurrou as palavras que liberariam seu poder adormecido:

Soul Ignis!

elemental do fogo

Imediatamente, uma explosão de energia pulsante varreu o campo de batalha, arremessando os Ceifadores que o cercavam como se fossem folhas ao vento. O chão estremeceu, e o ar ficou denso, carregado com o calor da fúria de Guido. Chamas alaranjadas e intensas envolveram suas mãos, enquanto uma aura vermelha, vibrante como fogo, cobria todo o seu corpo, criando um contraste feroz com a escuridão do ambiente.

O general de Darkslayer, surpreso, levantou o braço para proteger o rosto do calor abrasador que emergia de Guido, preparando-se para o que estava por vir. Ele sorriu, um sorriso que misturava cautela e respeito.

— Interessante… — murmurou ele. Olhando com admiração aquele poder, como se tentasse lembrar o que ele representava. Guido avançou. A areia sob seus pés se levantou com a força de seus movimentos, e ele atacou com uma velocidade surpreendente. Seus punhos, agora envoltos em chamas, desferiam golpes pesados e brutais. O impacto de cada soco ressoava como trovões, o som ecoando no campo deserto enquanto faíscas voavam pelo ar.

O general, embora ágil, lutava para acompanhar a nova velocidade de Guido. Ele se esquivava com precisão, seus movimentos rápidos e calculados, mas a pressão dos ataques era intensa. A cada golpe evitado, o general ria brevemente, avaliando o novo estilo de combate.

— Ficou muito mais veloz… e perigoso — ele comentou, desviando por pouco de um chute devastador que poderia ter quebrado seus ossos. 

A troca de golpes foi feroz. Guido não dava espaço para respirar, pressionando com socos flamejantes e chutes implacáveis. A areia ao redor deles levantava-se em nuvens densas a cada passo, a cada golpe, criando um cenário de caos e destruição. O calor de suas chamas distorcia o ar, e o chão, onde seus golpes atingiam, começava a se incendiar levemente, deixando marcas negras.

Em um movimento rápido, Guido acertou um poderoso soco em direção ao peito do general, que se desviou por milímetros. Mas a sequência não parou. Guido seguiu com uma joelhada fulminante que o pegou de surpresa, e o impacto jogou o general para trás, seus pés deslizando pela areia em uma tentativa de manter o equilíbrio.

Antes que ele pudesse se recompor, Guido aproveitou a vantagem. Ele ergueu uma das mãos, concentrando sua energia. As chamas que envolviam seu corpo se intensificaram ainda mais, e bolas de fogo começaram a se formar em suas palmas.

— Vamos ver se você consegue escapar disso! — Guido gritou, arremessando uma série de bolas flamejantes na direção do general.

O general, com incrível agilidade, se esquivou no ar, movendo-se em curvas rápidas. Ele girava entre as chamas, como se dançasse entre a morte, mas Guido não dava trégua, lançando uma bola de fogo atrás da outra.

Em um momento de descuido, o general não esperava a última bola de fogo. Ela veio rápida e certeira, e antes que pudesse reagir, o impacto a atingiu em cheio no peito. O general grunhiu ao ser jogado para trás, seu corpo capotando na areia várias vezes antes de finalmente parar, com a marca das chamas ainda queimando sua roupa.

Guido o observou de longe, ofegante, com os olhos brilhando de intensidade, as chamas ao seu redor tremulando como se refletissem sua própria força de vontade.

O corpo do general de Darkslayer estava estirado no chão, ainda coberto de areia e fuligem. Guido se aproximava lentamente, suas chamas ainda crepitando ao redor do corpo, como uma aura quase divina. Seus passos eram firmes, e sua presença impunha respeito. Ao chegar perto do general, Guido fez uma proposta fria, espelhando o que o homem havia dito minutos antes.

— Vou lhe dar a chance de recolher essas criaturas e voltar para o buraco de onde vieram. — A voz de Guido era cheia de convicção, sua respiração ainda pesada pelo uso de seu poder.

O general de repente começou a rir, uma risada que inicialmente era baixa, mas rapidamente cresceu até se tornar uma gargalhada histérica, quase insana. Ele se levantou devagar, batendo a poeira de sua roupa queimada, e, para a surpresa de Guido, seu corpo estava intacto. Não havia sequer um arranhão. Era como se as chamas que o haviam acertado não tivessem existido.

— Você… você é realmente incrível! — O general disse, rindo mais alto, de forma psicótica, olhando para Guido com uma expressão quase divertida. — Agora tudo faz sentido. Estava me perguntando onde já tinha ouvido falar desse poder. — Guido estreitou os olhos, sua expressão confusa.

— Você me conhece? — perguntou ele, tentando compreender a situação. O general parou de rir abruptamente e, com um sorriso que misturava malícia e certeza, respondeu:

— Eu sei exatamente o que você é, e o que significa esse poder que você carrega. — Ele deu um passo à frente. Guido hesitou. O que o general sabia? Ele mal compreendia o poder que possuía, algo que Gaty sempre o advertiu a manter em segredo, o impedindo até de sair de Nastec sem supervisão. Aquilo era uma sombra constante sobre sua vida, e a forma como o general falava só aumentava suas dúvidas.

Guido voltou à realidade com o som da risada histérica do general ecoando no deserto. O homem parou abruptamente de rir, seus olhos agora frios e sombrios. Ele encarou Guido diretamente, seu tom de voz mudou, ficando sério e ameaçador.

— Infelizmente, você é alguém que precisa ser eliminado.

Antes que Guido pudesse reagir, ele sentiu algo estranho. O calor que envolvia seu corpo se dissipou subitamente, sua aura vermelha intensa desaparecendo como uma chama extinta. Ele olhou para baixo, e seus olhos se arregalaram ao ver a espada do general cravada em sua barriga. O sangue começou a manchar a areia sob seus pés.

— Como…? — Guido mal conseguia formar palavras. Ele nem sequer viu o general se mover. Como ele havia sido atingido?

O mundo ao redor começou a girar. Seus sentidos ficavam cada vez mais turvos, e a dor cortante que emanava de seu estômago era insuportável. Ele viu o general se aproximando lentamente, uma figura distorcida em meio ao caos de sua mente desmoronando. A pergunta assombrava seus pensamentos: é esse o poder de um general de Darkslayer?

— Adeus, jovem soldado de Nastec… — O general puxou a espada em um único movimento, e Guido sentiu o mundo ao seu redor desabar. Seu corpo tombou na areia, inerte, a visão obscurecida pelo sangue e pela dor.

Com uma expressão de lamento, o general se aproximou mais uma vez. Ele se agachou ao lado de Guido, a voz baixa e cheia de um estranho respeito.

— Não é justo que um guerreiro como você morra sem saber o nome de quem o derrotou. — Ele inclinou a cabeça levemente. — Meu nome é Fujin. Lembre-se disso… se conseguir.

Os Ceifadores começaram a se reunir em volta de Fujin, seus grunhidos agudos cortando o silêncio pesado que pairava no campo de batalha. As criaturas o seguiam, formando uma sombra ao redor do general, enquanto ele se afastava lentamente. Guido, deitado no chão, mal conseguia ver a silhueta de Fujin se desvanecendo no horizonte, enquanto a escuridão o envolvia.

O deserto voltou à sua calma mortal. A brisa suave carregava o som distante do vento, que ecoava nos ouvidos de Guido enquanto sua consciência lentamente o abandonava.

— Fujin… — Guido pensou, sua mente se desligando. — Não me esquecerei desse nome…

Agradecimento

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